Grupo: Morphosyntax learners (Assis, Eliézer, Humberto, Leandro e Leonardo)
Referência: SAUTCHUK, Inez. Prática de
morfossintaxe: como e por que aprender análise (morfo)sintática. 2. ed.
Barueri, SP: Manole, 2010. p. 15-24.
Olá, leitores. Hoje iremos falar um pouco sobre
a classificação mórfica das palavras e como distinguir, por exemplo, um
substantivo, um adjetivo, etc. Aprenderemos quais são os meios mais seguros de
se classificar uma palavra, sempre levando em conta o que foi aprendido nas
aulas de Morfossintaxe. Portanto, esperamos ser claros e que gostem das
explicações. Serão dadas algumas dicas também sobre formas de usar tais
conhecimentos em sala de aula, no ensino da Língua Portuguesa. Então, chega de
falar e vamos começar...
A autora Inez Sautchuk inicia o capítulo 2 de
seu livro fazendo algumas considerações
sobre os critérios para a classificação das palavras. As palavras
geralmente seriam agrupadas em várias classes de acordo com a similaridade
entre suas formas, as funções que desempenham ou o sentido que expressam.
Sendo assim, Sautchuk relaciona a forma ao eixo paradigmático. Isso significa que um indivíduo, ao realizar o
seu discurso, pode escolher entre um grande acervo virtual (ou imaginário) que
contém todas as possibilidades de formas a serem usadas. No entanto, esse
grande conjunto está “ausente” no discurso e só passa a estar presente na
medida em que o falante seleciona alguma das formas e a utiliza. Os autores
então dizem que esse eixo paradigmático seria uma “linha vertical”. Por
exemplo, numa mesma frase, um falante pode usar as palavras “menino”, “garoto”,
“guri”, “criança” e outros sinônimos. Todas essas palavras estão disponíveis no
acervo virtual e o falante decide qual delas melhor se adequa à situação e ao
objetivo que ele possui ao elaborar o seu discurso.
Já as funções
possuem relação com outro eixo que os estudiosos chamam de eixo sintagmático. Quando um falante vai unindo diversas formas,
seguindo as leis de construção e a relação da língua, aquelas unidades passam a
estar “presentes” no discurso. Assim sendo, o eixo sintagmático é o eixo da
“presença”, é o eixo horizontal onde ocorrem as relações entre os termos e no
qual essas relações podem ser analisadas. O eixo sintagmático poderia ser
analisado apenas se houver dois ou mais termos no discurso, uma vez que para
estudá-lo, estuda-se a relação entre termos e não há relação se houver apenas um
elemento isolado. Para exemplificar isso, tomemos a frase “o menino atirava uma
pedra pela janela”. Os falantes do português não teriam dificuldade em afirmar
que é uma frase bem formada, inteligível (fácil de entender) e as relações
entre as palavras ou formas que a compõem estão de acordo com as normas e
regras da língua. Já a frase “*a menino atiravam umas pedra pelas janela”. Essa
frase, para um falante nativo da língua, pode soar bem estranha, confusa e de
difícil interpretação. Pois, por mais que as formas estejam sendo usadas em uma
ordem sintática aceitável, as relações que elas estabelecem entre si são falhas
(elas não seguem as regras de construção permitidas pela língua). Há erros de
concordância nominal, verbal, desvios de gênero e número, etc. Outro exemplo
seria a frase “*menino o pedra janela pela atiravam”. Note que as palavras ou
formas usadas são as mesmas da primeira frase. Entretanto, elas estão numa
ordem esquisita e inaceitável sintaticamente. Isso é facilmente reconhecível
por qualquer falante nativo.
O sentido
seria a união entre os eixos
paradigmático e sintagmático, isto é, de acordo com as formas que o falante
escolhe e levando em consideração as funções que elas exercem no discurso,
haverá um determinado sentido daquilo que se diz (os sentidos podem ser muitos).
Segundo a autora, “forma, função e sentido estão intimamente ligados para explicar
qualquer fenômeno linguístico”. Deste modo, ao analisarmos um fenômeno
linguístico, podemos fazê-lo isolando as formas (elementos mórficos e
estruturais que vierem a compor ou decompor paradigmaticamente as palavras),
verificando-se as funções (posições ocupadas no eixo sintagmático) ou o sentido
(relação entre as ambas as coisas, também associado, geralmente, a fatores extralinguísticos; como o
contexto imediato no qual o discurso é produzido).
Em expressões como “grande homem” e “homem
grande”, por exemplo, temos as mesmas formas, mas os sentidos diferem-se devido
a fatores de natureza sintática (a ordem dos vocábulos). Um mesmo tipo de
estrutura sintática também pode apresentar sentidos diferentes, caso alguma das
formas mude. É o caso das sentenças “este é o romance mais bonito de Jorge
Amado” e “este é o terno mais bonito de Jorge Amado”. Nessas frases, a
diferença de sentido é interpretada por meio de elementos semânticos que exigem
um prévio conhecimento de mundo.
Sautchuk afirma que o os fatores semânticos e
extralinguísticos são importantes para explicar ocorrências da língua, mas não
os únicos. Além disso, exorta que não é possível continuar definindo conceitos
gramaticais necessários a partir do critério
exclusivamente semântico, que, segundo ela, é adotado por “uma gramática filosófica que já não pode
nortear [...] estudos atuais [...] da Linguística”.
Ainda se persiste em definir o substantivo como
“a palavra que dá nome aos seres”, o adjetivo como “a palavra que dá qualidade
aos seres” ou que “qualifica o substantivo”. Essas definições adentram em
discussões filosóficas e conceitos abstratos como o conceito de “ser”,
“qualidade de um ser”. Ademais, há palavras como “beleza” e “inteligência” que
indicam qualidade, mas não adjetivos. Há palavras tais como “feio” e
“estúpido”, as quais pode-se questionar se qualificam ou desqualificam os
substantivos.
Sobre o verbo, ocorre o mesmo. Define-se o
verbo como “palavra que exprime ação, fenômeno ou estado”. Mas e as palavras
como “briga” e “lançamento”? São ações, mas não são verbos. “Chuva” e
“relâmpago”, por exemplo, exprimem fenômenos ou estados, entretanto não são
verbos.
Verificando-se tudo isso, percebe-se que, por
mais que essas definições existam, as pessoas aprendem na escola sobre o que é
um substantivo, um adjetivo e um verbo. Não vão dizer que “relâmpago” é um
verbo. O que ocorre então? Elas aprendem
“apesar” das definições, mas não “por causa” delas. Elas aprendem por meio
de mecanismos intuitivos que geralmente
desconhecem.
Os linguistas mais modernos preferem apoiar-se
em critérios de caráter formal e
sintático para classificarem as palavras. Isso acontece porque, como já se
viu, os critérios semânticos são
extremamente falhos e, em contrapartida, os formais e sintáticos são mais
confiáveis, dispensando exigências subjetivas de análise. Ao adotar-se critérios morfossintáticos, será possível reconhecer com
mais segurança as palavras que constituem o sistema lexical aberto (que engloba
os substantivos, adjetivos e verbos e que é impossível de ser decorado).
Daí a importância dos professores, ao longo de
suas aulas, apresentarem aos alunos tais critérios que serão vistos a seguir:
por serem mais exatos e por terem relação com os mecanismos da própria intuição
para o aprendizado de uma língua e suas características. A morfossintaxe
funciona como se fosse a “matemática” da língua, ou seja, é mais racional e
objetiva que os critérios semânticos. Esses podem ser ensinados em primeira
instância, para facilitar um pouco a assimilação do conteúdo (dependendo da
série dos alunos). Todavia, se a turma já possuir maturidade suficiente para
compreender esses elementos mórficos e sintáticos e utilizá-los, compensa, sem
dúvida, ensiná-los já no início e evitar as abstrações semânticas (que mais
tarde poderiam gerar questionamentos, dúvidas e confusões).
Antes de prosseguirmos, sugerimos a
visualização desse vídeo, no qual pode-se notar alguns dos conceitos
elementares acerca da Morfossintaxe:
Observação:
No fim, do vídeo, a professora diz que “do” é a junção de “de+a”, e na
realidade é a junção de “de+o”.
·
Os mecanismos
mórficos e/ou sintáticos para a classificação ou identificação das classes de
palavras
Sautchuk lembra que “tem caráter mórfico (ou formal) toda ocorrência que envolver os
elementos estruturais das palavras (os gramemas dependentes – desinências, afixos,
etc.) e que tiver como unidade de estudo tão somente a palavra”.
Assim é que se explicam, no português, as
flexões de gênero e de número [gato(a), mesa(s)], ou processos de derivação
prefixal ou sufixal (moral, imoral, amoral, moralmente, moralidade). Contudo,
nos casos das palavras “personagem” e “pires”, não é uma marca mórfica que
define o gênero e o número, respectivamente. O gênero e o número de tais
palavras dependeriam da relação com outras palavras, ou seja, de critérios
sintáticos da língua. Pode-se dizer, por exemplo, “personagem esquisita”, “um
bonito personagem”, “este pires” ou “muitos pires”.
São esses critérios – mórficos e sintáticos –
que serão úteis para uma classificação mais segura das palavras do sistema
aberto da língua. No entanto, vale dizer ainda que essa classificação dependerá
também do comportamento dos vocábulos na “cadeia falada”, o que torna difícil dizer que uma determinada palavra
sempre será um substantivo ou um adjetivo.
Existem características
peculiares a determinadas classes de palavras que permitem, em um determinado
contexto, assegurar-nos de que se trata deste ou daquele tipo de palavra: a
língua não funciona apenas em um único eixo (paradigmático ou sintagmático).
·
Substantivo
O substantivo é a única classe de palavras que
aceita o sufixo -inho(a) ou -zinho(a) e -ão ou -zão no sentido de “pequeno” ou
de “grande”. Esse é um critério mórfico (pois baseia-se no uso de sufixos). No
entanto, é de maior valia para palavras concretas (como
caneta/canetinha/canetão).
Esse critério é verdadeiro, uma vez que
palavras como os adjetivos aceitam esses sufixos, mas não contêm o sentido de
“pequeno” ou “grande” (exemplo: lindinho, lindão). No entanto, tal mecanismo
não serve para muita coisa quando se analisa as palavras abstratas, gerando
formas “estranhas” (exemplo: conteudinho/conteudão).
Para reconhecer substantivos, um critério
extremamente eficiente de identificação seria o sintático que afirma que: só é substantivo, em português, a palavra
que se deixa anteceder pelos determinantes.
No âmbito linguístico, é considerado
determinante “todo o conjunto de morfemas gramaticais independentes que servem
não para acrescentar um conteúdo semântico ao substantivo ou para modificar seu
sentido, mas para identificar sua referência por meio da situação
espaçotemporal ou delimitar seu número”. Então, são determinantes simples os
artigos (definidos/indefinidos), os pronomes possessivos e demonstrativos e os
numerais cardinais e ordinais [além dos relativos cujo(a, os, as) e os
indefinidos adjetivos (algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, nenhuma, etc.]. Devido
à natureza morfossintática, esses determinantes só se articulam com
substantivos ou palavras que estejam funcionando como tal,
Sautchuk dá o exemplo da seguinte
frase:
“Não é (a,
uma, minha, esta) função popular impedir (os, uns, seus, aqueles) reajustes de (o, um, nosso, esse) preço na próxima (a, uma, sua, essa, nenhuma) temporada. ”
Muitos substantivos já vêm antecedidos de
determinantes, o que facilita sua classificação. Outros lexemas da sentença
acima (“popular” e “próxima”) não se articulam com determinantes ou teriam como
resultado uma expressão de sentido incompleto ou desconexo (“*o(a) popular”,
“*um(uma) popular”).
Tal mecanismo é extremamente eficiente e pode
ser usado por crianças e adultos. Serve tanto para a identificação de
substantivos concretos, como para substantivos abstratos (também aqueles que
não se pode afirmar que são “seres”).
Os determinantes também possuem grande força
substantivadora, podendo transformar qualquer palavra de qualquer outra classe
em substantivo:
Meu sofrer é proporcional aos seus nãos.
O com pode
ser uma palavra bem comunicativa.
·
Adjetivos
Em relação aos adjetivos, pode-se dizer que
somente palavras adjetivas aceitam o sufixo -mente, originando, dessa forma, um
advérbio nominal. Por exemplo:
Popular (adjetivo) + -mente = popularmente
(advérbio nominal)
Próxima (adjetivo) + -mente = proximamente
(advérbio nominal)
Contudo, esse critério sofre o inconveniente de
acordo com o uso na língua. Alguns advérbios assim formados podem “soar mal”,
tal como “meridionalmente”. Daí a necessidade do uso de outro critério, que,
entretanto, não desconsidera este.
Por uma lei morfossintática do português, todo
adjetivo é palavra variável em gênero e/ou número e deixa-se articular (ou
modificar) por outra que seja advérbio. Isso não seria muito prático, pois
implicaria em saber antes o que é advérbio. Mas, poder-se-ia reformular essa asserção
para: todo adjetivo é palavra variável
em gênero e/ou número que se deixa anteceder por “tão” (ou por qualquer
intensificador, como bem ou muito, dependendo do contexto).
Na sentença estudada nos tópicos dos
substantivos, pode-se retomar a palavra “popular”:
A (uma, minha, esta) função tão popular.
Outros exemplos: a temporada tão próxima, meu sofrer tão proporcional, etc.
Tal mecanismo é tão eficiente que funciona até
em contextos em que ocorre adjetivação de substantivo:
Ele não é homem para isso. (= ele
não é tão homem para isso).
Não se pode esquecer, contudo, que é necessário verificar se a palavra que
está recebendo o acréscimo sintático do intensificador é variável em gênero/ou
número (requisito mórfico). Também deve-se notar se está se articulando junto a um substantivo, com o qual forma um “par
perfeito” (requisito sintático). Isso é importante, para que não se
confunda os adjetivos com os advérbios, termos que serão discutidos num outro
artigo.
Ufa! Depois de toda essa matéria, vamos
descontrair um pouco. Para aqueles que amam o português e amam arte, sugerimos
a visualização do vídeo abaixo. Não irão se arrepender!
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